Liberdade de expressão e expressão artística é o que permeia o enredo da nova websérie “Adsumus”, que já está disponível na plataforma do Youtube da Good Times Produções. Buscando passar uma mensagem de resistência e abordando assuntos importantes e atuais, como o autoritarismo e a censura de um governo ditatorial, os produtores e idealizadores reuniram no elenco, atores que pudessem transmitir o sentimento e que acreditam no que estão representando.
“Adsumus”, palavra em latim, que significa “estamos presentes”, foi o nome escolhido para a websérie que foi lançada há cerca de um mês. Segundo os idealizadores, a palavra representa quem está de prontidão e sempre atento aos acontecimentos. Além disso, “Adsumus” é o nome do grupo de artistas, que na história da websérie, protestam contra toda represália que sofrem em um governo ditatorial. O grupo é liderado pelos personagens Kaus, Lago e Romã, interpretados, respectivamente, pelos atores Ingrid Pedroza, Juliana Louven e Rapha Harley. O grupo chama a atenção da personagem protagonista Pandora, que encantada pela ideia de “liberdade”, se envolve, gerando consequências para vida de todos. Pandora é interpretada por Kássia de Paula, também idealizadora e roteirista do projeto.
“Para os papéis de Lago e Romã, não foi tão difícil a escolha dos atores. Eu já havia trabalhado com a Ju e com o Rapha e, enquanto escrevia o roteiro, pensei neles. A Ju tem uma entrega linda e eu sabia que seria um desafio, já que ela não tinha experiência em performances corporais, mas não existiam dúvidas. O Rapha é o músico mais talentoso que já conheci e eu amo vê-lo atuando. Já para o papel da Kaus, a escolha foi um pouco mais difícil, porque eu precisava de alguém que fosse uma força da natureza, que gritasse liberdade e exaltasse sensualidade. Fizemos testes, mas não estávamos satisfeitos. Foi quando me lembrei da Ingrid. No momento em que ela estava fazendo a leitura do roteiro, olhei para o Lucas e já sabíamos que tinha que ser ela. Por fim, o papel da Pandora nem gerou discussão. Eu escrevi e idealizei para ser a minha personagem” conta Kássia.
Fotografia: Divulgação
Além das fortes mensagens passadas através da construção do roteiro e da construção das cenas, a arte de atuar não é a única que prevalece. Sendo uma websérie diferente e com um alto teor poético e performático, buscado pela produtora, “Adsumus” apresenta atores incrivelmente caracterizados desde seus figurinos à maquiagem, realizadas por Vall Costa e Suellen Pereira. Contando também com o talento da fotografia, dirigida por Luiz França, e da trilha sonora, criada por Rapha Harley e Eduardo Ribeiro. Um time de artistas.
Toda esse espetáculo que “Adsumus” cria em sua produção, foi algo diferente do que alguns atores já estavam acostumados e, para esses, foi um verdadeiro desafio fazer construção dos personagens. “Lago é muito expressiva, mas de uma forma diferente da minha realidade, de como eu lido na minha vida. Ela expressa o peso do seu passado com a raiva, tanto nos olhos, quanto em ações. É libertador e, ao mesmo tempo, assustador, mas afinal, atuar também é sobre se conhecer em lugares que, normalmente, não nos permitimos”, afirma Juliana Louven. “Eu demorei a entender o que estava acontecendo com meu personagem. Entretanto, entrar nessa história, sentir na pele, no olhar e conectar com outros atores… Foi, certamente, um marco na minha vida”, completa Rapha Harley.
O que é importante lembrar é que a história que os personagens interpretam e a mensagem de resistência que “Adsumus” deseja passar, não foge tanto da realidade. Como disse a idealizadora Kassia de Paula, “Qualquer semelhança não é mera coincidência”. Afinal, no ano passado, 2019, artistas, principalmente atores e pessoas envolvidas em produções audiovisuais, passaram um momento de real censura, protagonizado pelo governo brasileiro. Nele, o presidente do país, Jaír Bolsonaro, tentou censurar um edital previsto pela Agência Nacional do Cinema (Ancine) e cessar o financiamento de séries com teor LGBTQ+ para TV. A portaria foi derrubada pelo ministro da Cidadania, Osmar Terra, o que não anula a situação que artistas vivem no dia-a-dia com a falta de patrocínio e auxílio do governo para suas produções. Até porque, naquele mesmo momento, Jaír Bolsonaro ameaçou, também, acabar de vez com a Ancine.
“Resistir nunca foi uma tarefa fácil, mas falar de resistência não é algo distante. Nós, artistas, sabemos o que é resistir, uma luta diária de sobrevivência nessa selva de pedra regida pelo mecanismo econômico, onde viver de arte é direção contrária à opressão”, afirma Ingrid Pedroza.
O momento que o mundo passa em quarentena, devido ao COVID-19, chega para mostrar para população nacional, e também mundial, o quanto a arte é necessária. O distanciamento social, o fechamento do comércio e a ordem vinda da Organização Mundial da Saúde (OMS) para evitar aglomerações, deixa como uma das únicas atividades para população, o consumo de entretenimento vindo de séries, filmes, produtos independentes, criações de conteúdo das plataformas digitais, músicas, livro, etc. Ou seja, o mundo consumindo arte de todos os lados e de todas as formas.
“É muito difícil abordar ditadura, ainda mais em um país com a nossa história em que, até hoje, não se sabe exatamente o número e a forma com que pessoas foram afetadas na ditadura que o Brasil sofreu em 1964. Mas quisemos abordar, em nossa distopia, sobre ser voz nesses momentos sombrios. Encontrar a poesia e o lúdico dos artistas que viveram esses tempos sem perder sua essência, como uma homenagem ao papel da arte em ser resistência em todos esses tempos que a humanidade já passou e ainda passa”, conclui Kássia.