A jornada do anti-herói: como um lavrador rural e uma dona de casa prepararam uma Shark Tank Brasil – por Fernanda Stasczak

Meu pai é filho de imigrantes russos e poloneses fugidos da segunda guerra.

Como todo filho de imigrante, foram para o trabalho rural como forma de ajudar em casa. Mais tarde, seguiu o seu caminho trabalhando para um pequeno produtor, que vendo o esforço do meu pai na lavoura o aconselhou a largar tudo e ir para a cidade tentar algo melhor pois via nele grandes virtudes.

Assim o fez.

Com a roupa do corpo e uma trouxinha nas costas, foi a pé para a cidade mais próxima, perambulando pelas ruas atrás de emprego, até que uma empresa de transportes o contratou como lavador de ônibus, e ele pediu se poderia dormir no piso da garagem da empresa pois não tinha moradia.

De lavador de ônibus, aos poucos e com muito jogo de cintura – afinal, seus 1.65m e voz fininha não liderariam 300 motoristas “das antigas” aos gritos – conseguiu seu lugar ao sol, se tornando a primeira pessoa mais importante da empresa depois do dono, por 33 anos, até se aposentar.

Meu pai me encorajou a tirar as rodinhas da bicicleta nem que eu me ralasse toda, fazer minhas “super manobras” com meu skate de plástico e me quebrar toda pelo bairro indo comprar pão com o meu patinete inseparável. Porque para ele a coragem era mais importante do que parecer bonita.

Minha mãe me fazia ler um livro por mês com ela na cama todos os dias, até eu me tornar a campeã de locação de livros da biblioteca da escola (quem não lembra da coleção vagalume)! Ela terminou o ensino médio com a gente na sala de aula, minha irmã mais nova ainda estava no carrinho de bebê, no período noturno. Abriu um salão de beleza na sala de casa e perdemos nossa televisão, depois fez um puxadinho no fundo do quintal, e depois, um dos salões mais cobiçados do bairro. Sei que ela me cobrou muito, mas hoje eu entendo, ela não teve as mesmas oportunidades que a gente e só queria o nosso melhor.

Quero dizer com tudo isso que não importa sua origem, se foi humilde como a dos meus pais (sem vitimismo, apenas inspiradora) ou se foi mais tranquila, veja pessoas como eles como anti-heróis num País como o nosso em que o ensino básico é defasado, não ensina o que realmente é importante para uma vida próspera como gestão, vendas e educação financeira, e que nos educa apenas para termos um emprego para o resto de nossas vidas, sem ao menos questionar.

Não estou dizendo que todos serão empreendedores e que essa jornada caiba na rotina de todo mundo, sou muito realista (até porque isso é impossível). 

Mas que possamos ver histórias como a deles mais vezes como inspiradoras, que possamos nos angariar das facilidades que a internet nos proporciona de aprender conteúdo gratuito para que possamos fazer renda extra, melhorar nossas profissões e até nosso desenvolvimento pessoal, transformando assim toda uma mentalidade de escassez em prosperidade – e quem sabe de toda uma geração.

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