Hidrocefalia é tema de entrevista com o renomado Neurocirurgião Dr. César Cimonari.

Em entrevista ao jornalista Jairo Rodrigues, o médico relatou sobre sintomas e tratamento da doença; entenda

Em julho deste ano, o humorista Léo Lins causou a indignação de muitas pessoas nas redes sociais após publicar um vídeo, onde aparece em uma apresentação fazendo uma piada ofensiva sobre uma criança cearense com hidrocefalia.

Além da revolta, a repercussão negativa do vídeo e do ato levou à demissão de Leo do SBT, emissora onde ele trabalhava.

Para entendermos um pouco sobre a doença, essa coluna conversou com o Dr. César Cimonari, renomado Médico Neurocirurgião.

Jairo Rodrigues: Dr. Quais são os sintomas da hidrocefalia de pressão normal e como tratar?

Dr. César Cimonari:  Os principais sintomas da hidrocefalia de pressão normal, também conhecida como HPN, envolvem três grupos diferentes de dificuldades. O sintoma mais frequente é a dificuldade para caminhar. Em segundo lugar a alteração de memória ou de atenção. E por último, a incontinência urinária. O tratamento normalmente envolve reabilitação com fisioterapia, psicologia, terapia ocupacional e com bastante frequencia a realização de uma cirurgia.

“Metade dos pacientes que têm essa doença vão ter todos os sintomas, mas podem ocorrer casos em que apenas dois, ou mesmo um deles está presente.”

Jairo Rodrigues: Existe mais de um tipo de hidrocefalia?

Dr. César Cimonari: A hidrocefalia é o nome técnico para o acumulo de liquido (líquor) nas cavidades naturais do cérebro. Este liquido existe normalmente, mas ele é produzido e reabsorvido a todo momento dentro do cérebro. Este acumulo anormal pode acontecer de forma gradual, ou de forma súbita, sendo que quanto mais rápido, mais grave. Na hidrocefalia de pressão normal, o acumulo é lento, e a pressão do cérebro é normal, por isso não há emergência no tratamento, embora o diagnóstico precoce seja importante para a melhor chance de recuperação.

O segundo tipo que é aquela em que a pressão é aumentada. Isso pode acontecer após acidentes, infecções ou sangramentos no cérebro, como os AVCs. Nessas situações normalmente temos que realizar o tratamento na emergência, pois pode levar a um quadro grave chamado hipertensão intracraniana, que pode ser fatal.

Jairo Rodrigues: A Hidrocefalia pode acometer pessoas de qualquer idade ou somente bebês e idosos?

Dr. César Cimonari: A hidrocefalia pode acontecer em qualquer idade. Nos idosos o tipo mais comum é a hidrocefalia de pressão normal. Já em bebês, normalmente ela é causada por alguma malformação ou infecções. Nesses casos costuma ser do tipo com a pressão aumentada, e quase sempre precisa de algum tipo de cirurgia de urgência. Nas outras faixas etárias quase sempre vai estar relacionada a alguma outra doença, como por exemplo trauma de cranio, AVC, tumores cerebrais ou meningites.

Jairo Rodrigues: Tem como reverter a hidrocefalia?

Dr. César Cimonari: Reverter apenas nos casos em que há uma obstrução, como por exemlo no caso de um tumor cerebral, e é possível remover a obstrução com uma cirurgia. No caso da hidrocefalia de pressão normal, não há como reverter a hidrocefalia, nem a evolução da doença, mas é possível tratar para melhorar alguns dos sintomas e normalmente com muito ganho de qualidade de vida.

Jairo Rodrigues: Que tipo de exame detecta a hidrocefalia?

Dr. César Cimonari: O exame mais indicado para a investigação inicial é a ressonância magnética do crânio, que será capaz de mostrar com detalhes o acumulo de liquido, além de ajudar a definir possíveis causas e diagnósticos diferenciais. Uma tomografia de crânio, que é um pouco mais simples, mas mais disponível, já funciona como uma boa triagem, já que também mostra o acumulo do liquido, mas sem tanta definição.

Na suspeita da hidrocefalia de pressão normal especificamente, um exame já mais invasivo que ajuda bastante no diagnóstico é o Tap-Test. Nele é realizada uma bateria de testes psicológicos de atenção e memória, alguns testes de força e mobilidade.  Em seguida, através de uma punção da região lombar, parecida com a que fazemos o teste para suspeita de meningite, realizamos a retirada de cerca de 40 mL do liquido. Após algumas horas, repetimos os testes para avaliar se houve alguma melhora da memória ou da mobilidade.

“Este exame é muito util não so para determinar o diagnostico, mas também ajuda a prever um pouco o que esperar do tratamento”.

Jairo Rodrigues: Existem doenças que podem ser confundidas com a hidrocefalia de pressão normal?  

Dr. César Cimonari: Como os sintomas são muito frequentes em idosos, é comum que sejam confundidos com quadros de demências, como por exemplo o Alzheimer, ou então com doenças que limitam os movimentos, como Parkinson ou doenças da coluna como estenose ou hérnias de disco. Há casos até em que o diagnóstico adequado pode ser atrapalhado por doenças de próstata em homens ou insuficiência pélvica em mulheres.

Esta dificuldade acontece porque o paciente pode ter a hidrocefalia junto com essas doenças ou, em especial nos casos em que os sintomas são parciais, os quadros são muito parecidos mesmo. A maior dificuldade para o paciente com hidrocefalia de pressão normal é a demora no diagnóstico.

“Suspeitar cedo da HPN é essencial para iniciar o tratamento no momento adequado, e é recomendado que a pessoa com essa suspeita busque um neurocirurgião habituado com este quadro para avaliar o diagnóstico e propor a melhor forma de tratamento”.

Jairo Rodrigues: O tratamento adequado para hidrocefalia é cirurgia?

Dr. César Cimonari: Quando o diagnóstico é confirmado pela soma dos sintomas, exames de imagem e pelo tap-test, quase sempre será indicado o tratamento cirúrgico. Existem diversos tipos de cirurgias possíveis. A modalidade mais indicada de cirurgia é a colocação de uma Derivação Ventrículo Peritoneal (DVP). É um procedimento de risco relativamente baixo quando comparado a outras cirurgias cerebrais, em que colocamos um cateter para drenar liquido diretamente do cérebro, e levamos a drenagem até a região do abdome, onde o excesso de liquido não trará problemas.

“Este sistema é permanente, e fica todo por dentro da pele do paciente, sem partes aparentes, a não ser por uma pequena saliência no local onde instalamos uma válvula. Esta é uma das partes mais importantes, pois esta válvula regula a quantidade de liquido que iremos drenar, alguns modelos mais novos permitem até mesmo ajustar a quantidade de liquido utilizando um imã especial sem necessidade de novos cortes”.

Existem casos em que a melhora pode ser parcial, principalmente quando há mais de uma doença ao mesmo tempo. Mas se a avaliação pré-operatória for bem feita, a melhora dos sintomas pode ocorrer de forma bem rápida, de dias a semanas, e o paciente pode retomar a reabilitação.

*Publicado por Jairo Rodrigues

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