“Estou deixando de ser uma mulher trans, mas estou destransicionando e vou ser o Breno novamente”, explica Jade Naiad.
Influenciador LGBTQIA+PN, Breno desmistifica o processo de destransição de gênero a partir de sua própria vivência. Conhecido anteriormente como Jade Naiad, ele fala sobre identidade, reconstrução e os estigmas que cercam quem decide trilhar esse caminho.
A destransição de gênero ainda é um dos temas mais mal compreendidos dentro e fora da comunidade LGBTQIA+. Cercado de preconceitos e suposições equivocadas, o processo é frequentemente visto como sinônimo de arrependimento, falha pessoal ou instabilidade emocional. Mas a história de Breno, influenciador digital e ativista LGBTQIA+PN, ajuda a romper esses estigmas.
Antes conhecido como Jade Naiad, Breno viveu por anos como mulher trans — inclusive como modelo, com destaque no concurso Miss Bumbum Brasil. Hoje, ele vive o processo de destransição e faz questão de deixar claro: não se trata de uma decisão religiosa, política ou motivada por arrependimento. É, acima de tudo, uma nova etapa pessoal de autoconhecimento e identidade.
“Destransicionar não é ‘voltar a ser homem’ como se isso apagasse tudo que eu vivi. É um processo profundo, às vezes doloroso, mas necessário para me reconectar com quem sou hoje, depois de tudo que vivi como Jade”, afirma.
Mitos que Breno desconstrói:
Ao compartilhar sua experiência nas redes sociais, Breno enfrentou muitos questionamentos e julgamentos — boa parte deles baseados em mitos. Três ideias equivocadas, em especial, se repetem com frequência:
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“Só se faz destransição por arrependimento” – Um dos maiores equívocos é pensar que toda destransição parte de um erro. Para Breno, isso apaga a complexidade da identidade de gênero e a fluidez da experiência humana. “Eu não me arrependo da Jade. Ela faz parte de mim.”
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“É impossível reverter cirurgias transsexualizadoras” – Embora nem todas as alterações físicas possam ser completamente revertidas, existem procedimentos de reversão — com exceção da cirurgia de redesignação sexual — e eles podem sim trazer uma nova aparência, ainda que o corpo nunca mais volte a ser exatamente como antes.
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“Quem destransiciona tem problemas psicológicos” – Esse mito é especialmente cruel. “As pessoas acham que destransição é sinal de desequilíbrio, quando na verdade, pode ser o oposto: um sinal de que você está em busca de coerência interna e bem-estar.”
Verdades que precisam ser ditas:
Do outro lado da balança, Breno aponta três verdades que precisam ser compreendidas sobre a destransição — e que raramente são ditas com honestidade:
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O corpo nunca mais volta a ser como antes. Mesmo com cirurgias e tratamentos bem-sucedidos, o corpo guarda marcas e sequelas da transição. “Não existe reset”, diz Breno.
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Não seremos vistos como pessoas cis. Por mais que a sociedade fale em inclusão, a verdade é que a percepção das pessoas é marcada pelo histórico. “A família, os amigos, o olhar do outro… tudo é atravessado pelo que você já foi. É preciso aceitar que você sempre será, de algum modo, diferente.”
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É um processo lento e emocionalmente desafiador. Lidar com a mudança de imagem, de pronomes, de identidade pública e pessoal exige tempo e força emocional. “Tem dias em que é difícil me reconhecer. Mas eu sei que estou me reconstruindo.”
Entre o que se foi e o que está nascendo:
Hoje, Breno compartilha sua experiência não como um modelo universal, mas como uma voz que busca quebrar silêncios. Ele acredita que falar abertamente sobre destransição pode ajudar outras pessoas a compreenderem suas próprias jornadas, sem culpa e sem vergonha.
“Eu sou um homem que um dia foi uma mulher trans. E está tudo bem com isso. Essa é a minha verdade, com todas as suas dores, aprendizados e beleza. E eu não quero me esconder.”
Foto: Divulgação / F Press.