Reviravolta: ex-detento Marcelo Bianchini mostra como saiu do crime para o sucesso profissional

Marcelo Bianchini passou 10 anos preso e espera que sua história de superação inspire outras pessoas a terem protagonismo em suas vidas e a superarem crises

Marcelo Bianchini escolheu não fazer parte da elevada taxa de presos reincidentes. Após passar 10 anos no sistema penitenciário, virou empresário e hoje ensina seu público a se libertar das “prisões mentais”. O estudo “Reentradas e Reiterações Infracionais – Um olhar sobre os sistemas socioeducativo e prisional brasileiros”, realizado pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) com dados de 2015 a 2019, publicado em 2020, revelou que, no mínimo, 42,5% das pessoas com processos registrados nos Tribunais de Justiça em 2015 de todo o Brasil voltaram ao sistema penal até 2019. O que fez Bianchini fugir desta realidade foi sua força de vontade: ele decidiu romper com o ciclo de violência e crime no qual vivia.

Seu pai também foi preso e, após ser solto, matou a mãe de Marcelo na frente do então menino de 7 anos e cometeu suicídio. “Ele matou minha mãe na minha frente, me pegou no colo e deu um tiro na cabeça dele, fiquei cheio de sangue e cérebro”, lembra. Esta é uma das inúmeras histórias do hoje pai, marido, empresário, treinador comportamental e criador do Instituto Bianchini. Aos 36 anos vive o sucesso alcançado em sua vida profissional e pessoal. Seu trabalho utiliza métodos como a hipnose e técnicas de programação neurolinguística para orientar seus pacientes na cura de traumas e no desenvolvimento da inteligência emocional e de outras habilidades. Além dos atendimentos, dá cursos, palestras e já escreveu livros. Segundo Marcelo, o objetivo é levar sua história ao maior número de pessoas e impactá-las. “Quero mostrar para todos que assim como eu consegui, outros também podem mudar suas vidas completamente”.

O ponto de virada foi aos 25 anos, quando ele já estava preso há 7 anos, o rapaz  ingressou no sistema penal aos 18 anos. Era mais uma manhã fria em que ele e os demais detentos foram acordados de madrugada pelo Batalhão de Choque da PM para uma blitz no pavilhão. Apesar de já ter passado por aquilo outras vezes, naquela ocasião foi diferente. “Aquele dia mexeu comigo, me abalou emocionalmente de tal forma que eu tremia, me descontrolei, fiquei totalmente desestabilizado. Havia levado tiros de bala de borracha, via aqueles cães ferozes em cima da gente e me senti um lixo. O momento do basta é quando a pessoa se incomoda com a situação e decide tomar uma decisão para mudá-la, aquele foi o meu momento do basta. Naquele dia jurei para mim mesmo que nunca mais passaria por uma situação igual. Vi que eu estava repetindo os padrões do meu pai e decidi assumir o controle da minha vida, foi a decisão que mudou toda a minha vida, foi quando decidi que me tornaria alguém de valor”, revela Bianchini. Ao longo desse caminho foi desencorajado por muitas pessoas, que diziam que um ex-detento não teria chance fora das grades. “Eu decidi não seguir a manada e me determinei a criar as minhas próprias oportunidades”.

Além das atividades físicas que praticava desde que entrou na cadeia, passou a se aprofundar em leituras. De revistas, até livros espíritas e de História, todas as páginas eram devoradas pelo jovem que não tinha nem Ensino Médio completo. Foi nesta fase que ele desenvolveu o gosto pela leitura. “Eu, no início, não gostava de ler, mas vi que era uma boa forma de passar o tempo e me desenvolver. Algumas unidades tinham bibliotecas, mas bem limitadas, às vezes havia presos que podiam trazer livros e eu pedia emprestados”. Três obras marcaram sua trajetória: O Príncipe, de Maquiavel; A Arte da Guerra, de Sun Tzu, e o seu preferido, que inclusive trouxe da prisão ao ser libertado, As 48 Leis do Poder, de Robert Greene. Também leu diversas biografias de pessoas de sucesso que o inspiraram.

O ensinamento de Marcelo é que as pessoas assumam o protagonismo de suas vidas. “Muitos se vitimizam, culpam a crise, o governo, arrumam um culpado para carregar suas responsabilidades. Temos nossas habilidades e todos somos capazes de realizar grandes feitos”. Para isso, Marcelo acredita que é necessário haver mudança dos padrões de comportamento, parte em que ele se especializou. Ele mostra que todos nós temos crenças enraizadas que nos levam a repetir padrões, como ocorre no caso de pessoas que entram no crime. “Eles acham que só podem fazer aquilo, que nasceram para serem bandidos, pois receberam desde cedo esta programação mental, como aconteceu comigo, mas podemos nos reinventar, e isso vale para todas as situações de vida”.

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