Dois mil e vinte e dois é um ano comemorativo na carreira do ator e diretor Rodrigo Hallvys, que já está com a agenda do ano planejada. Artista desde criança, ele acaba de completar dezoito anos desde sua profissionalização como diretor e, ainda, os dez anos de sua empresa, a RH Soluções Artísticas.
Rodrigo tem uma trajetória que transita entre o comum de muitos artistas e, ao mesmo tempo, peculiaridades na trajetória. Dentre tais, a diversidade multifacetada de funções que aprendeu durante a jornada profissional.
– Eu estava na primeira infância quando comecei a falar que seria artista. Fui alfabetizado com histórias em quadrinhos e, como quase toda criança, eu desenhava e pintava todos os dias. Porém, com três anos eu fiz meu primeiro desenho figurativo e a família inteira reconheceu o que eu desenhei. É muito claro em minha memória o sentimento de que eu fiz algo que tinha dado certo e continuei praticando – lembra, com um sorriso estampado no rosto, acompanhado dos olhos paralisados, voltados ao passado.
De lá para cá já são décadas. Hoje, com 40 anos, Rodrigo acumula diversas profissões artísticas no extenso currículo, que passa por teatro, televisão, cinema, literatura e música. “A questão é gostar de arte e se propor a viver e sobreviver da mesma. Não dá para romantizar profissões, todas elas possuem suas questões que envolvem incompatibilidades em algum quesito. Seja lidar com seres humanos, instabilidade, acessibilidade ou recursos para desenvolvimento pleno. A questão é a pessoa compreender o que ela quer e como fazer enquanto ela está em plano físico”, comenta.
O primeiro experimento cênico veio com os nove anos, o qual o artista menciona que foi um divisor de águas e que ali identificou melhor o que queria se propor a pesquisar e produzir durante sua trajetória.
-Parecia que tudo havia clareado quando eu me envolvi com artes cênicas. Conseguia retratar as pessoas para elas mesmas poderem refletir sobre seus comportamentos e questões através de personagens fictícios. Eu ainda era criança e isso me fazia ser fora da caixinha. Quando tinha quatorze anos eu já estava escrevendo cenas, de uma forma bastante amadora e com dezessete comecei a esboçar direção teatral. Uma coisa foi levando à outra – explica Rodrigo Hallvys.
Segundo o artista, algumas conquistas acabaram aumentando os anseios e serviram como sinal de que estava solidificando os passos. “Recebi o prêmio de melhor ator no World Actors 2000, no Rio de Janeiro. Meu registro de ator veio dois meses depois, em seguida comecei a ter contato com televisão. Foi uma sequência de passos que geraram mais passos e eu fui aumentando o que chamamos de portfólio”, detalha.
Hallvys ainda argumenta que a realidade pela qual passou acabou criando uma diferencial em sua trajetória e, como tudo, há os lados positivo e negativo.
-Veja bem! Eu nasci em Volta Redonda, no interior do Rio de Janeiro, na década de oitenta, ainda dentro do período da ditadura militar. Você falar, ainda criança, que vai ser artista dentro de uma família onde todo mundo é de outras áreas vira um tornado. A situação ficou mais difícil porque eu realmente comecei a me impor e me agarrei na arte. Ficou todo mundo de cabelo em pé. E eu sempre dizia: confiem na educação que me deram. Hoje a família acompanha e comemora cada conquista, entendendo como eu funciono, como a arte funciona e que para você ser artista você não tem que abrir mão de sua índole e dignidade. Eu ainda era adolescente e tive que encontrar forma de desmanchar o resquício de preconceito que havia a minha volta contra o fato de alguém ser artista – relembra.
Em janeiro de 2004 Rodrigo se profissionalizou diretor de teatro através da comprovação de seus trabalhos também na função de diretor. Neste período ele já havia assumido a direção do Grupo Cênico Estudarte, fundado no ano anterior e que, hoje, é produto de sua empresa. A faculdade de Teatro veio em 2008, seguindo um fluxo diferente de muitos outros profissionais.
-Foram muitos anos executando os trabalhos até que surgiu o primeiro curso superior em Teatro no Sul Fluminense, no qual consegui ingressar. Eu já tinha minha própria oficina de teatro quando fui para a faculdade. E foi aí que tive um norte maior sobre o que estava fazendo. Por mais autodidata que sejamos, ter profissionais nos orientando e nos dando parâmetros de reflexão também com teoria faz toda a diferença – defende Hallvys.
Já a RH Soluções Artísticas veio em 2012 por um motivo especial: Rodrigo Hallvys era fã do trio musical de black music ‘As Sublimes’ (que já havia contado com Isabel Fillardis, Karla Prietto, Lilian Valeska e Flávia Santana) e tinha, um ano antes, dado entrada no registro do nome do grupo para traze-lo de volta, produzindo o reencontro das antigas integrantes no mesmo ano. A empresa passou a produzir, sob sua chancela, festivais de teatro, publicação e lançamento de livros, agenciamento de animais para cena, roteiros, produção de videobooks para atores e aumentou as franquias da oficina de teatro com o Estudarte.
-Se formos falar em números, tenho aí cerca de trinta e dois anos de envolvimento nas artes cênicas, vinte e quatro de envolvimento com direção, vinte e um de profissionalização como ator e dezoito como diretor. A RHSA possui dez anos de vida e o Estudarte quase dezenove. São coisas que sinto serem duradouras por esse tempo todo e, embora eu já tenha realizado tudo o que almejei na vida, creio que sobre aprendizado, nunca estejamos totalmente completos – finaliza Rodrigo Hallvys, demonstrando que a agenda trará novidades durante o ano.
Foto: Jana Machado